A Técnica da
Vida Espiritual – Clara Codd
Capítulo I
INTRODUÇÃO
É patente que o mundo se encontra agora no limiar de uma Era
inteiramente nova.
A vida se processa em ciclos, nunca numa linha reta
invariável. Este grande princípio é válido. Não há uma tarde que não leve a
outra manhã, nem inverno que não proceda outra primavera. O “dia” de um homem, segue
exatamente a mesma série. O primeiro arco da vida do homem é de avanço,
crescimento, progresso; o segundo é de volta, de lenta decadência das forças
vitais, do princípio da paz noturna.
Isto é verdade não somente para um dia, um ano, um ciclo
vital, mas também para a vida coletiva de cada nação, civilização, planeta,
sistema solar e, até mesmo, para o próximo universo ilimitado. Esta é a lei cíclica
universal, movimento eterno, ritmo das marés altas e baixas de toda a natureza.
É assim que uma nação chega à extinção e deixa de existir, mas as almas que
nela vivem renascem numa nova raça. Podemos ver os traços dos romanos,
colonizadores obedientes as leis, nos ingleses modernos, e os meticulosos
artistas gregos nos franceses de hoje. As civilizações, que as nações criam e
corporificam, tem seu grande dia e depois passam, e de suas cinzas surgem um
novo e mais elevado conceito de vida. A consciência coletiva da humanidade
atravessa muitos desses ciclos, e nisso, embora as formas possam ser
destruídas, a vida imortal persiste e logo se expressa em novas formas.
Muda a antiga ordem, dando lugar a uma nova, E Deus se
realiza de muitas maneiras, não deixando que um velho hábito venha a corromper
o mundo.
Um ciclo como esse de aproximadamente 2000 anos, está se
encerrando agora. A humanidade encontra-se “um dia de marcha mais próxima de
casa”. Os sinais de encerramento de um ciclo são desordens generalizadas, caos,
mudanças, cataclismos. Daí lentamente emerge o esboço e o novo domínio de uma
nação por outra são fatos do passado. A união de todo o mundo pelo sem-fio,
pelo rádio, televisão, aviação, etc., pressagiam um sonho do poeta Tennyson: “
O parlamento do homem, a federação do mundo.” A Nova Era que agora desponta
verá o crescimento do princípio da cooperação entre todas as nações e todas as
classes e, assim, o fim da guerra, bem como da pobreza, para o resto da vida
neste planeta.
Essas mudanças são acarretadas pelo crescimento da
consciência do homem; e isto se projeta no mundo do pensamento religioso com
mais intensidade mesmo que no mundo do relacionamento social este seja uma
consequência daquele. O homem está passando da ideia do Deus Transcendental
para o Deus Imanente: Deus imanente, acima de tudo, no mais profundo do coração
do homem. Daí o rápido e extraordinário crescimento do interesse das pessoas no
Misticismo, no Ocultismo, na ioga e na vida dos grandes Santos e Sábios. Há
oitenta anos atrás, um adepto fez notar que uma onda de misticismo está
varrendo a Europa. Agora ela está inundando o mundo inteiro e milhares de
pessoas, voltando-se para dentro de si, tateiam em busca de Deus, procuram
encontra-lo, buscam em seu interior o Reino dos Céus e a felicidade duradoura.
Esta é a verdadeira religião; como Dean Inge disse, o
misticismo – o conhecimento direto de Deus – é a religião real, e sem seus
grandes santos, conhecedores e amantes do Real, nenhum sistema exotérico
poderia durar. Mais e mais almas estão
procurando seu interior, tentando encontrar a realização divina. Isto leva-nos
a outro grande princípio da Natureza: Tudo vem-a-ser. Dentro da bolota (1) está
o futuro gigante da floresta; dentro da semente a adorável flor; e dentro da alma
do homem, o futuro Deus, o homem perfeito. Está no destino do homem que um dia
ele aprenda a mergulhar na misteriosa profundidade de seu glorioso ser, pois
somente ai se encontra a verdadeira sabedoria e o verdadeiro poder de ajudar.
Essa necessidade humana está sendo preenchida hoje por
numerosas escolas de pensamento oculto e místico, algumas sinceras e
verdadeiras e outras menos sábias e não devidamente informadas. Escrevo este
livro com o propósito de fazer a pequena parte que me cabe na ajuda a essa maré
de ascensão, formada por aqueles que procuram a realidade, onde quer que possam
estar, sejam eles ou não parte de alguma religião ou corpo místico. A realidade
é o fato puro e simples em toda parte, sem nome, sem rótulo, sem partido.
Quando a ela nos dirigimos revestimo-la com roupas do pensamento, no qual fomos
educados, ou estamos imersos. Mas a realidade é uma, Simples e Bela. É o topo
resplandecente da grande montanha de Deus, e o homem minúsculo começa a ascendê-la,
partindo de qualquer ponto em sua base e escolhe o caminho que melhor lhe
parece. Mas, chega ao cume resplandecente, vê que todas as estradas se
juntaram, e apenas resta aquilo que o nobre Plotino chamou “o voo do um para o
uno”.
(1( 1) Bolota é o pequeno fruto do carvalho (N.T.)
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